Ativista da defesa dos direitos dos animais, a apresentadora Luisa Mell participou ontem (29/9/2017) do resgate de 135 cachorros de diversas raças que estavam sendo explorados para a reprodução e venda de filhotes em Osasco, na zona oeste de São Paulo. A operação contou com o apoio da Delegacia de Polícia de Investigações sobre o Meio Ambiente de Osasco (DIICMA). Veterinários, voluntários e agentes da delegacia participaram da ação.
De acordo com a delegada titular da DIICMA, Cristiane Pires, foram encontrados cachorros das raças yorkshire, lhasa apso, golden retriever, shih tzu, pug e poodle. Além dos animais vivos, outros nove foram encontrados mortos em sacos plásticos no lixo da residência.
"Recebemos a denúncia por meio da ONG da Luisa Mell e montamos a equipe para realizar o resgate. Eles nos encaminharam fotos e vídeos e contatamos a Zoonose de Osasco e a própria ONG para que pudessem levar os animais resgatados. Quando chegamos ao local, constatamos os maus-tratos. Era insalubre e deplorável. Os cães estavam molhados com a própria urina, estavam desnutridos, alguns em acesso venoso. Encontramos nove deles mortos em sacos plásticos no lixo. O local era horrível. A casa era grande e boa, mas estava tudo sujo e muitos animais machucados", afirma a delegada.
Nas redes sociais, Luisa Mell publicou vídeos da operação e de como os animais foram encontrados. Um deles tinha o maxilar quebrado e muitos estavam com os pelos completamente embolados e sujos. Em uma das filmagens, é possível ver uma cadela com problemas nas patas traseiras se arrastar pelo corredor repleto de fezes. Em outro vídeo, a equipe resgata um cachorro com 40 cm de comprimento e cerca de 10 cm de espessura de pelo embolado em urina e fezes.
"Foi terrível, um filme de terror. Um dos piores casos que a gente já viu e olha que já vimos muitos casos tristes. Cada quarto onde entrávamos era um novo pesadelo. Não temos nem ideia de todos os problemas que eles têm. Muitos estavam com o maxilar quebrado, um com olho perfurado por causa das agressões, os pelos embolados com fezes... São animais que sofreram violência de todos os tipos. É uma dor horrorosa. Pessoalmente era muito pior que nos vídeos. As matrizes estavam muito sofridas. Eles eram espancados diariamente, tinham marcas de tortura. Muito cruel", conta Luisa.
"A dona negou que agredisse os animais, mas era muito evidente. O pior para a gente é perceber que pessoas de bem financiam isso e, às vezes, sem nem saber. Eu abri um armário cheio de roupinhas de cachorro caras. Ela vendia o animal, dava banho, arrumava ele, colocava aquela roupinha e o novo tutor acreditava que era um bichinho bem cuidado. Não sabe nem o massacre que tem por trás, a vida horrível que eles têm. A gente bate na mesma tecla porque é importante: amigo não se compra", declara Luisa.
Nos vídeos, Luisa e a equipe ainda encontraram cabos de vassoura que estariam sendo usados para agredir os animais. Em um dos vídeos divulgados, a dona do estabelecimento afirma que usava os pedaços de madeira para bater na parede ou na mesa para assustar os animais. A responsável pela residência foi levada para a delegacia.
Segundo a delegada Cristiane, além dos animais, foram encontrados a autorização de funcionamento do canil e carteiras de vacinação com assinatura de veterinários, mas sem o adesivo ou data das vacinas. Dessa forma, a marcação poderia ser adicionada após a compra do filhote.
"Vamos instalar o inquérito policial para investigar o que acontecia naquela casa. Em depoimento, ela afirmou que não maltratava os cachorros, disse que limpava o local duas vezes por dia e confessou que já havia comercializado filhotes. Ela nega veementemente os maus-tratos. Pareceu-nos uma acumuladora. Ela foi ouvida e liberada. A princípio, ela poderá responder por maus-tratos apenas. Mas, no decorrer da investigação, outros crimes podem entrar no processo. Para nós, fica uma sensação de impotência. Dentro da lei somos limitados ainda", lamenta a delegada.
Todos os animais foram resgatados e encaminhados para o Instituto Luisa Mell, onde receberão atendimento veterinário e ficarão abrigados até que estejam disponíveis para adoção responsável. Nas redes sociais, o resgate chegou a entrar nos assuntos mais comentados no Twitter Brasil. Luisa pediu apoio financeiro aos internautas para custear as despesas médicas dos 135 cachorros.
"Não temos nem condições de resgatar tantos animais. São 135. Mas não poderíamos deixar nenhum para trás. Vamos contar com o apoio das pessoas para cuidar de todos eles fisicamente e também psicologicamente. Não sabemos ainda a dimensão dos tratamentos necessários nem se todos irão sobreviver, mas faremos o impossível para salvá-los", escreveu Luisa.
Veja um dos vídeos.
Fonte: Extra
Foto: Reprodução
NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:
1. "(...) a dona do estabelecimento afirma que usava os pedaços de madeira para bater na parede ou na mesa para assustar os animais." O começo do vídeo desmente a criminosa, mas, ainda que ela estivesse dizendo a verdade sobre isso, assustar animais com barulho ou por outro meio também é maus-tratos.
2. Esse caso é mais um dos inúmeros exemplos da crueldade que envolve o comércio de cães e gatos de raça, em todo o mundo. Quem compra cães e gatos de raça está financiando esse horror. Leia aqui diversas matérias sobre o comércio de vidas. Nunca compre animais. Adote. Se você compra um animal, financia a exploração e maus-tratos. Quando você adota um animal vindo das ruas (você mesmo resgatando ou adotando um bicho já devidamente preparado - vacinado, vermifugado, castrado e identificado - em uma ONG de adoção), está salvando um ser vivo de diversos perigos, acidentes e violências, fome, sede, frio etc. Além disso, amor e amizade não se compra. Parece uma escolha óbvia, não? Penso, logo adoto!
3. Atualmente, temos em nosso Centro de Adoção três shih tzus, também resgatados de fábrica de filhotes. São uma mãe e dois de seus inúmeros filhos, os três com brucelose. A mãe, de 10 anos de idade, que era matriz e foi explorada durante toda sua vida para dar cria e lucro para os "criadores", também está cega. Tudo resultado das péssimas condições em que viviam. Leia aqui a história deles. E confira aqui nosso endereço e telefones para vir conhecê-los pessoalmente.
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