“O sofrimento humano é o mesmo que o animal”, diz professor de filosofia moral


Oscar Horta é professor de filosofia moral na Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Ativista em defesa dos animais e membro da Fundação Ética Animal, ele foi investigador visitante em universidades dos Estados Unidos, Suécia, Finlândia, Itália, Portugal e Dinamarca, assim como na Fundação Espanhola de Ciência e Tecnologia. Em 2007, obteve o Prêmio de Ensayo Ferrater Mora e, em 11 de julho de 2017, apresentou, na Casa do Livro (Catalunha), seu ensaio Um Passo à Frente em Defesa dos Animais. A obra começa com as peripécias de Teresa, que, depois de correr durante quilômetros ao escapar de uma granja, se joga ao mar, chegando à Calábria após nadar durante três horas. Ela acaba sendo capturada e, como apresentava sinais de brucelose, decidem matá-la.

A história é real e as pessoas ficaram tão surpreendidas com sua fuga desesperada que isso gerou uma comoção social, o que acabou salvando-a.

Teresa era uma vaca.

O livro chama atenção para o quê?

Apesar de muita gente seguir pensando que os animais são coisas a nosso serviço e que não precisamos nos preocupar com eles, existe um movimento social que está se preocupando e tem crescido cada vez mais. Eu tento explicar quais são as razões pelas quais deveríamos respeitar os animais e quais são essas consequências. Minha intenção é fazê-lo de maneira amável e fácil de entender, mas sem esconder nenhuma das questões existentes, indo fundo em temas que parecem ter sido superados.

Por exemplo?

A situação na qual vivem os animais que são explorados. Muitas pessoas desconhecem e pensam que eles vivem felizes nas granjas, quando na verdade a realidade é que eles estão passando por maus bocados. Existem milhares amontoados, reclusos em jaulas onde nem conseguem se mexer. Sua vida é assim e a morte nos matadouros é assustadora. Isso faz com que muitas pessoas deem o primeiro passo em direção ao veganismo, para não ter mais nada a ver com isso. No livro, exponho razões não só para não maltratá-los, mas também em sua defesa.

O que você expõe é que não é uma questão de gosto, e sim de caráter?

Sim. É mais importante do que se você gosta ou não. É que o que fazem com os animais é algo que tem a ver com injustiça. Se pensássemos e nos colocássemos em seu lugar, nunca aceitaríamos essa situação.

Estamos mais sensíveis, sabemos mais dos horrores que desconhecíamos ou é moda?

São mudanças históricas na forma de pensar, como o questionamento sobre a situação da mulher, por exemplo. Não é moda, é mudança e consciência social.

O livro destaca que as pessoas que se preocupam pelos direitos dos animais não o fazem por amor…

Claro. Quando nos preocupamos por pessoas que morrem de fome ou sofrem uma guerra não é porque gostamos delas. É porque você considera que é uma causa justa. O natural é defender os animais mesmo que você não goste deles. Argumentos como de que os seres humanos valem mais que os animais já estão superados. Se ainda aceitássemos, seria legítimo discriminar as pessoas menos inteligentes. O ponto está na dor, o sofrimento dos humanos não é maior que o dos animais por nós sermos mais inteligentes. A dor é a mesma.


Foto: Xoán Soler

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