Toxoplasmose: gatos não representam perigo para grávidas

    

Por Paulo Furstenau*


O Sabará Hospital Infantil, em São Paulo (SP), publicou recentemente (29/1/2017), em sua página no Facebook, uma postagem falando sobre toxoplasmose. Não haveria nada de extraordinário em uma instituição de saúde divulgar informações sobre uma doença, se não fosse por um detalhe: a imagem que ilustrava a publicação era de um gato cruzado por um X, junto a uma grávida e um médico, sugerindo que felinos estão proibidos de conviver com gestantes.

É antiga a crença popular de que gatos transmitem toxoplasmose e grávidas não devem conviver com eles. Por isso, é um completo desserviço qualquer instituição ou órgão da área da saúde, e principalmente um hospital conceituado, ratificar esse mito, quando já é mais do que sabido, por meio de diversos estudos em todo o mundo, que gatos não transmitem toxoplasmose para humanos - ou melhor, transmitem, se o humano comer as fezes do gato ou tocá-las e levar as mãos à boca.

Assim, além desse cuidado bastante básico, outras recomendações para tutores de gatos - e não somente para prevenir a ingestão de oocistos (parasitas transmissores da toxoplasmose), mas também para o zelo geral pelo bem-estar e saúde dos bichanos - são limpar a caixa de areia diariamente com água escaldante, não alimentá-los com carne mal cozida, não permitir que eles cacem; e aquela que não está associada à toxoplasmose, mas que deve ser seguida por todos os tutores: castração.

Segundo os professores veterinários Richard W. Nelson e C. Guillermo Couto, no livro Medicina Interna de Pequenos Animais (editora Elsevier), "ter contato com gatos isoladamente não constitui-se uma via comum de se adquirir a toxoplasmose, pelas seguintes razões: 

- Os felinos geralmente eliminam oocistos apenas por poucos dias ou semanas, após a inoculação primária;

- A eliminação repetida de oocistos é rara, mesmo nos felinos que tenham recebido glicocorticoides ou naqueles infectados com o vírus da imunodeficiência felina ou vírus da leucemia felina;

- Felinos com toxoplasmose inoculados com cistos teciduais após 16 meses da inoculação primária não eliminam oocistos;

- Os felinos são muito limpos e geralmente não permitem que as fezes permaneçam em sua pele por período de tempo suficiente para levar à esporulação dos oocistos;

- O aumento do risco de adquirir a toxoplasmose não foi associado à posse de felino nas pessoas com Aids ou naquelas que trabalham na área de saúde animal".

O convívio com gatos só traz benefícios para os humanos - de todas as idades, condições de saúde, com gravidez ou não. E a infeliz imagem escolhida pelo Sabará, ao difundir desinformação, deu margem ao abandono de gatos por parte de tutoras que engravidem. Para piorar, o bicho em questão era um gato preto, tornando ainda mais grave a perpetuação de informação errada, ao somar a isso o incentivo à superstição que envolve esses bichos, que leva inclusive a maus-tratos contra eles. 

Após diversos protestos contra a postagem, o Sabará a excluiu e divulgou no dia seguinte uma nota de retratação, que reproduzimos abaixo.

"Prezados seguidores, pedimos desculpas e lamentamos o infeliz equívoco da imagem utilizada no post sobre toxoplasmose. 

A toxoplasmose é uma doença transmitida aos seres humanos por um tipo de protozoário proveniente de solo contaminado, carne crua infectada (especialmente carnes de porco e de carneiro) e por infecção transplacentária, ou seja, de mãe para filho durante a gestação.

O Ministério da Saúde recomenda algumas medidas de controle e prevenção da doença, tais como: evitar uso de produtos animais crus ou mal cozidos, eliminar as fezes de gatos infectados em lixo seguro, proteger caixas de areia, lavar as mãos após manipular carne crua ou terra.

O Sabará apoia e recomenda a interação entre os animais e as crianças. Diversos estudos comprovam a importância dessa convivência, que melhora tanto o desenvolvimento psicomotor quanto a interação social.

Por isso, para que essa relação seja sempre muito saudável, a recomendação às famílias que possuem bichinhos de estimação em casa - não apenas gatos - é a de que procurem o acompanhamento frequente de um veterinário."


*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

Foto: Cute Cats

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