Por Dr. Eric Slywitch*
Algumas orientações para mães com crianças vegetarianas pequenas, especialmente nos dois primeiros anos de vida:
1. A criança vegetariana, como qualquer criança, deve ser acompanhada para avaliação do crescimento, ganho de peso e desenvolvimento.
Se o seu pediatra é contra a dieta vegetariana, saiba que existem outros que são plenamente favoráveis a essa opção. A junção do pediatra com um médico nutrólogo ou nutricionista que prescreva a dieta vegetariana é uma opção bastante segura.
2. A amamentação pelo menos até os seis meses de idade é fundamental para o indivíduo. Nesse período, deve haver atenção especial ao nível de vitamina B12 no sangue da mãe e à dieta para garantir a oferta de B12 no leite materno.
Caso a mãe não tenha um bom nível sanguíneo e uma boa ingestão de B12 ou por algum motivo não queira ou não possa utilizar suplementos dessa vitamina, ela deve ser ofertada diretamente ao bebê (existem xaropes no mercado com B12, desenhados para bebês e crianças).
Crianças veganas devem receber alimentos enriquecidos ou suplementos na forma de comprimidos ou xaropes. A injeção é uma possibilidade, mas não deve ser a primeira escolha.
Crianças ovolactovegetarianas ou lactovegetarianas podem não precisar de suplemento de B12, mas convém, além de quantificar a B12 ingerida, dosar os níveis sanguíneos de marcadores de deficiência dessa vitamina.
Durante toda a fase de introdução de alimentos, assim como na infância, deve-se avaliar a vitamina B12, mantendo-se a suplementação.
Como eu conduzo:
- SEMPRE prescrevo a vitamina B12, independentemente do consumo de derivados animais na dieta vegetariana.
- SEMPRE solicito as dosagens laboratoriais de marcadores de deficiência de vitamina B12. Lembre-se de que manutenção é uma coisa; tratamento da deficiência é outra. Muitas vezes, é necessário elevar os níveis da vitamina com doses elevadas e fazer sua manutenção com o suplemento habitual. Avaliação por meio de exames laboratoriais é fundamental! Não deixe de fazer os exames só porque utiliza o suplemento.
3. Nunca, jamais, em hipótese alguma, substitua o leite materno ou as fórmulas lácteas especializadas por sucos vegetais ou farinha de cereais ou feijões.
O leite materno é um alimento especialmente desenhado para o bebê. Na impossibilidade de utilização do leite materno, há diversas fórmulas no mercado feitas especialmente para sua substituição. São elas que devem ser utilizadas, e nunca misturas improvisadas. As fórmulas específicas têm composição definida de nutrientes (em termos quantitativos e qualitativos). O médico ou nutricionista deve indicar seu uso quando necessário.
4. A suplementação de ferro para crianças vegetarianas segue a mesma orientação preconizada para as não vegetarianas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que toda criança dos seis meses aos dois anos de idade receba suplementação de ferro, devido ao elevado índice de anemia nessa faixa etária.
Crianças prematuras devem iniciar a suplementação mais precocemente.
A verificação por meio de exames laboratoriais é fundamental. Deve ser avaliada não apenas os níveis de hemoglobina, mas também de ferritina.
5. Ofereça alimentos ricos em zinco (cereais integrais e feijões), utilizando os métodos de redução do ácido fítico dos grãos.
Deficiência de zinco pode ocasionar redução da velocidade de crescimento, diarreia e infecções em crianças.
É importante saber que pode ocorrer deficiência de zinco mesmo com exames laboratoriais apontando níveis de zinco na faixa de normalidade.
6. A suplementação de vitamina D para crianças vegetarianas segue as mesmas recomendações preconizadas para crianças não vegetarianas.
Apesar da exposição aos raios solares ser uma forma de adequação da vitamina D, sugiro não confiar nessa via de obtenção da vitamina. Minha experiência de consultório demonstra elevado índice de deficiência de vitamina D em pessoas que confiam apenas no sol para sua obtenção.
Sugiro sempre dosar os níveis sanguíneos dessa vitamina.
7. Principalmente para as crianças veganas, deve-se ficar atento à oferta calórica adequada. A necessidade proteica costuma ser ultrapassada quando a necessidade calórica é atingida com alimentos adequados.
8. Deve-se enfatizar o uso de alimentos mais calóricos de boa qualidade, baseados em grãos: derivados da soja (como tofu), cereais, oleaginosas e sementes (gergelim, girassol...), azeite, óleo de linhaça. Enfatizar o uso do abacate.
Esses alimentos podem, facilmente, ser utilizados na forma de "papinhas".
Caso os grupos alimentares não estejam misturados (ex: sopa ou purê), procure não oferecer as verduras e legumes em grandes quantidades antes dos outros alimentos, pois podem causar sensação precoce de saciedade.
A fibra dos alimentos promove maior saciedade. Apesar do uso de grãos integrais (trigo, centeio, aveia, cevada...) ser muito saudável, se houver necessidade de incrementar a ingestão calórica, convém utilizar seus derivados, como pães, macarrões e seus flocos e farinhas.
Não restrinja a gordura de boa qualidade da dieta da criança com menos de dois anos de idade!
Utilize alimentos ricos em gorduras do tipo ômega 3. O óleo de linhaça deve ser enfatizado. Outros óleos, como de soja (prensados a frio de preferência), e oleaginosas contêm boas quantidades de ômega 3, mas a linhaça é a fonte mais rica.
9. Se precisar adoçar algum alimento, procure utilizar melado de cana no lugar do mel ou do açúcar refinado.
10. Exames de laboratório periódicos são muito bem-vindos.
Foto: Mundo Mulheres
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