Básica, carente de intelecto e narcisista: a "moda" de ofender vegetarianos e veganos

    Foto: filme Debi & Loide / Divulgação



Um artigo recentemente publicado no site do jornal chileno El Ciudadano fala sobre publicações feitas em redes sociais como o Facebook, que visam "trollar" vegetarianos e veganos, com imagens e mensagens postadas nos grupos voltados a esses temas, buscando claramente ridicularizar e ofender seus participantes.

"Queríamos trazer um retorno a essa questão e explicar na psicologia esse comportamento, que é extrapolável também ao que acontece com aqueles homens e mulheres que se dedicam a ofender, insultar e prejudicar, por exemplo, movimentos pela diversidade sexual, ambientalistas e feministas, entre outros", diz o artigo.

Para isso, consultaram a psicóloga Jael Bitran, vegetariana há 15 anos. Ela começa contextualizando o que acontece no caso dos animalistas e como esses ataques os afetam, sugerindo que os vegetarianos e veganos têm uma concepção diferente sobre os animais, a quem observam como um "alguém" e não um "algo". Um ser vivo, aprofunda a psicóloga, "cheio de vida, com sentimentos, capaz de sentir prazer, dor, sofrimento" e "cuja vida deve ser respeitada porque vale o mesmo que a nossa". O problema, ela acrescenta, é que "em nossa sociedade, os animais estão coisificados".

Ao analisar o que acontece nas ações mencionadas, ela assinala que "em geral, o que se desconhece provoca rejeição". Uma atitude que, acrescenta, "pode manifestar-se em uma necessidade de ridicularizar o outro para sustentar a minha posição de que comer animais é certo, mesmo que me digam o contrário".

Paralelamente, Jael explica que "nós, seres humanos, temos uma forte necessidade de pertencer a um grupo humano, é parte do que constitui e sustenta nossa identidade". E em casos como esses, diz ela, acontece que "algumas pessoas, para demarcar a diferença e distanciar-se de uma ideia que não lhes agrada, precisam primeiro ridicularizar o outro para sustentar sua própria identidade e mantê-la de pé".

A psicóloga explica as ofensas e o uso de imagens que afetam a sensibilidade dos outros, observando que, nesses casos, "o argumento intelectual de peso é posto de lado, recorrendo-se a um recurso básico como o escárnio e o insulto do outro, sem se valer de fundamentos consistentes que justifiquem meu pensamento".

Jael soma a isso que há um perfil "narcisista e com pouca capacidade de empatia" nessas pessoas na hora de "desrespeitar e ridicularizar os outros por suas opções de vida". "Uma personalidade narcisista tentará sabotar as crenças do outro, minando sua autoestima, como uma tentativa de submissão as suas próprias crenças e visão de mundo", diz ela.


Fonte: Veggi & Tal


NOTAS DA NATUREZA EM FORMA:


2. Recomendamos como complemento à matéria acima o texto Não quer ajudar, não atrapalha, escrito por Gregorio Duvivier para a Folha de S. Paulo em 13 de julho de 2015, que transcrevemos abaixo.


Não quer ajudar, não atrapalha

É sempre a mesma coisa. Primeiro, todo mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois, vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois, vem a onda criticando quem criticou. Em seguida, começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento, já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente, a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa para os pobres? Hipócrita. Ah, você doa para os pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: "Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa para as pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (...). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém".

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?".

O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, do meio ambiente, da saúde ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada para mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada - melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

[Texto original publicado aqui.]

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