9 atitudes dos tutores que os felinos detestam


A quantidade de lares que adotou o gato como o animal da casa está aumentando – não à toa: os bichanos são defendidos por especialistas como John Bradshaw, pesquisador da Universidade de Bristol, na Inglaterra, como o animal ideal do século 21. Mas, para garantir um bom relacionamento, especialistas acreditam que os tutores devem conhecer a história evolutiva desses felinos que, mesmo domesticados, ainda cultivam muitos dos instintos selvagens.

Se seu gato não gosta de viajar ou que você mude os móveis da casa, por exemplo, o motivo pode estar no passado territorial e caçador dos peludos: a maioria desses felinos vê mudanças como uma ameaça. “Os gatos podem viver mais felizes quando compreendemos seu comportamento. Eles não são selvagens, mas muitas das atitudes que tomam hoje têm origens claras nos felinos ancestrais”, diz a mestre em comportamento animal pela Universidade de São Paulo (USP) Carolina Rocha.

Gatos antigos 

Estima-se que os bichanos se mudaram para perto das cidades povoadas para se alimentar dos roedores há 10 mil anos, iniciando a convivência com humanos – que, ao perceberem a redução dos ratos na cidade, provavelmente incentivaram a permanência dos felinos. Mas os felinos ainda percorreram um longo caminho até conseguirem entrar nos lares das pessoas como animais de estimação: a domesticação ocorreu apenas há quatro mil anos, no Egito. 

Diferentemente do cão, que vem sendo moldado por humanos há 14 mil anos, a domesticação tardia dos felinos fez com que eles mantivessem até hoje muitas de suas características selvagens. Os gatos no século 21 buscam aliar caça e companheirismo – por isso, não é raro que o bichano presenteie o tutor com qualquer outro animal morto. 

Comportamento 

Enquanto os cães aprenderam como aturar certos comportamentos dos tutores e sinalizar mais claramente o que querem, os gatos, segundo Bradshaw, tendem a guardar emoções e sentimentos para si. Isso significa que eles sofrem sozinhos e não costumam indicar ao humano seu desconforto. Esse comportamento é um resquício do passado solitário e selvagem do gatos. Eles não tinham instinto colaborativo, mas sim competitivo. Dessa forma, muitos dos comportamentos dos felinos ainda são considerados “estranhos” pelos tutores. Na verdade, eles são simplesmente mal compreendidos, e isso pode causar danos ao animal – em casos extremos, até a morte. 

“Gatos e cães podem ter comportamentos parecidos, mas com significados opostos. Um exemplo é balançar o rabo. Geralmente, quando um cão balança o rabo, está feliz. Com os gatos, no entanto, a situação é oposta. Quando o bichano balança o rabo é, geralmente, um sinal de que ele está se preparando para brigar ou para situações de perigo. É um sinal de alerta”, afirma Carolina.

Ainda assim, a mestre em comportamento animal lembra que nem todos os gatos possuem as mesmas características: “É claro que os animais não são todos iguais e que exceções vão e devem existir”. De acordo com ela, os gatos podem ter atitudes diferentes de acordo com a criação ou mesmo a raça. “Os gatos persas vêm sendo cruzados há anos para que sejam menos ativos, por isso são bastante próximos dos humanos”, exemplifica. 

Confira abaixo as nove atitudes dos tutores que deixam os gatos estressados. 

1. Mudanças


Os gatos são bastante sensíveis a mudanças e podem sentir bastante desconforto quando elas acontecem – em casos mais graves, mudanças podem levar até à morte do animal. De acordo com Carolina, os gatos realizam espécies de “marcações” em suas coisas. Passando uma parte das bochechas nos objetos, paredes e afins, eles delimitam um ambiente onde se sentem confortáveis. Quando ocorrem mudanças de imóvel, móveis da casa ou quando os tutores os levam para viagens, os gatos sentem falta de suas marcações e tendem a ficar estressados. Em casos mais graves, como deixá-los sozinhos em hotéis para animais, dependendo da quantidade de dias, pode fazer com que eles se sintam desconfortáveis a ponto de parar de comer e defecar, acarretando sérios problemas urinários e hepáticos que podem levar o animal à morte. “Tem tudo a ver com a territorialidade. O gato selvagem demarcava um lugar que considerava seguro para ficar, criando um padrão. Qualquer mudança era terrível, pois rompia com essa previsibilidade que, para eles, garantia segurança. Os gatos mantêm relacionamentos tão estreitos com casas e objetos até hoje por causa desse comportamento vindo dos ancestrais”, afirma Carolina. 


2. Dar banho


Muitos tutores já sabem que quando os gatos estão se lambendo, na verdade, eles estão se limpando. No entanto, conforme explica a especialista, dar banhos sem necessidade nos felinos ainda é uma prática adotada por alguns tutores. O gato que está acostumado a tomar banho possivelmente não vai sofrer enquanto estiver debaixo d’água. No entanto, o que não está acostumado passará por momentos de muita ansiedade e estresse. “Os gatos não têm tanta secreção na pelagem e já possuem um mecanismo de higiene – a lambida. Muitas pessoas acham que, se o gato gosta de brincar com a água na torneira, por exemplo, vai gostar de tomar banho – e não é assim que funciona. É um sofrimento tão grande colocá-los embaixo d’água, que existem casos extremos em que o animal morre no dia seguinte por problemas hepáticos”, diz a especialista. De acordo com ela, os felinos selvagens em geral se sentiam ameaçados quando se banhavam em rios e lagos, pois as chances de serem atacados por outros animais, como hipopótamos, eram muito grandes. Como a espécie é caçadora, esse não era um risco que eles estavam dispostos a correr – possivelmente acarretando na fobia que os gatos têm até hoje de tomar banho. A especialista ainda alerta que, se o gato parar de se lamber, é um sinal de que está desconfortável com alguma situação ou que ele está passando por algum problema.


3. Assustar


No último ano, vídeos de tutores assustando gatos com pepinos se tornaram virais na internet. De acordo com Carolina, esse é um bom exemplo para explicar o susto nesses animais. “Como o gato possui características de caça ainda muito fortes, os sentidos desses felinos ainda são incrivelmente aguçados. A visão tem uma capacidade muito grande, assim como os bigodes, que possuem conexões com todo o corpo do animal. O gato sente que precisa estar preparado para pegar a caça. Esse constante estado de atenção faz com que eles se assustem facilmente", afirma a especialista. De acordo com ela, os gatos, assim como outros animais, têm uma grande capacidade de reconhecer o local onde vivem (principalmente pelas marcações dos ambientes considerados seguros). “Os ancestrais felinos ficavam alertas a qualquer mudança no ambiente. Qualquer movimentação não usual poderia significar a chegada de uma presa ou predador. É por isso que esses elementos estranhos ao ambiente comum do gato, como o pepino dos vídeos atuais, os assustam”, explica a especialista.


4. Descuidar da caixinha de areia


De acordo com a especialista, gatos não gostam que a caixa de areia fique em locais muito movimentados. “Gatos não gostam de fazer suas necessidades com muitas pessoas por perto. Eles ficam bastante desconfortáveis. Isso acontece porque os animais selvagens costumavam delimitar os espaços onde faziam as necessidades, brincavam ou comiam. O local onde eles defecavam era especialmente selecionado, escondido de predadores. Por trazer resquícios desse comportamento estratégico, o ideal é ter um local mais reservado para a caixa de areia”, afirma Carolina. A mudança de tipos de areia também pode prejudicar o animal. É um fator que os bichanos levam bastante a sério: qualquer modificação do tipo de grão, cheiro ou local pode fazer com que o gato fique estressado e deixe de fazer necessidades ou as faça em outros locais. Manter a areia suja, por exemplo, pode ser motivo de muita irritabilidade para os bichanos. Como são muito higiênicos, gatos tendem a não evacuar em caixinhas que estão muito sujas, preferindo fazê-lo em outros lugares – ou nem fazer, levando a problemas urinários.


5. Ter pressa para brincar ou não brincar


Os gatos, assim como os cães, precisam brincar. É assim que os felinos exercitam comportamentos ancestrais. Antigamente, as brincadeiras entre os gatos serviam para ensiná-los a caçar – e hoje, os felinos adultos realmente acreditam que estão caçando quando brincam com algum objeto. Portanto é importante que os tutores estimulem as brincadeiras com os bichanos. “Vinte minutos de brincadeira para o gato é como deixá-lo uma hora na esteira, pois ele realiza um grande esforço físico e mantém os sentidos bastante aguçados. Isso é o bastante para que ele desenvolva seus instintos naturais de felino. Para isso, os tutores de gatos devem ter, pelo menos, um arranhador, um local alto que eles consigam observar e um brinquedo de caça, como o ratinho de pelúcia”, afirma a especialista.

6. Brincar com laser


Uma brincadeira bastante recorrente entre os tutores dos animais é o laser, um instrumento que faz com que o bichano corra atrás de um ponto vermelho. Essa brincadeira, contudo, é extremamente estressante para o animal, segundo Carolina: “Quando colocamos o laser na parede, o gato verá o ponto vermelho como uma presa e irá caçá-lo. O problema é que ele jamais será capaz de capturar o ponto. Isso faz com que o animal sinta que é um péssimo caçador – uma funcionalidade que, um dia, garantiu que ele permanecesse vivo”.

7. Colocar a mão na barriga


“A barriga é considerada uma região delicada, pois é onde está a maioria de seus órgãos vitais. Ao virá-la para cima, o gato expõe essa região. Quando colocamos a mão na barriga dele, o felino entende que pode estar correndo um risco e deve tentar protegê-la. Se o peludo está brincando, colocar a mão na barriga será um indicativo de que a brincadeira está ficando mais agressiva”, afirma a especialista.

8. Mexer nas patas


Os gatos, normalmente, levantam as patas para brincar com os tutores. Essa brincadeira – que parece uma demonstração de carinho do gato – é, na verdade, um “treinamento” para as caçadas. “A pata é a arma do gato. Além da boca e dos dentes, a pata é a ferramenta de brincar, passear e caçar. No caso dos gatos selvagens, a mãe ensina a usar as patas para marcar e atacar as presas – tudo isso por meio das brincadeiras, desde filhote. Quando ele brinca, está usando suas ferramentas. A brincadeira reproduz esse comportamento de caça, por isso é importante que eles brinquem com as patas.” No entanto, por ser uma das principais armas do gato, as patas são altamente sensíveis, e por isso o animal se sente desconfortável se o tutor tenta pegá-las “Os gatos acostumados desde pequenos aceitam de forma tranquila que os tutores peguem as patas. Mas por serem bastante sensíveis, eles em geral não gostam que os tutores as segurem”, diz a especialista.

9. Forçar interação com gatos ou pessoas desconhecidas


Os gatos são, naturalmente, territoriais. Mesmo que pesquisas já tenham mostrado que o gato se afeiçoa ao tutor, ele só faz isso depois de se sentir confortável no ambiente em que está. De acordo com Carolina, ele se sente bastante desconfortável quando alguém ou outro gato invade o espaço que ele demarcou como seguro – é por isso que, geralmente, se esconde. Forçar o animal a deixar seu esconderijo para socializar, seja com humanos, seja com outros gatos, pode causar altos níveis de estresse no animal. “Gatos são mais possessivos com ambientes do que pessoas. Os felinos tendem a ficar desconfortáveis quando pessoas ou gatos estranhos invadem o ambiente que eles consideram deles”, afirma a especialista. De acordo com ela, os gatos possuem um ritual para conhecer "elementos" novos em seu ambiente, por isso é importante respeitar seu ritmo.



Fonte: Veja

Fotos: iStockphotos / Getty Images

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