Ele tem um quê de chow-chow, a robusta raça de origem chinesa. Hoje,
está com os pelos brilhando. É brincalhão. Apesar de seu porte, é
considerado jovem: tem apenas três anos de idade.
Quatro meses atrás, esse SRD (sem raça definida) vivia pelas ruas de São
Mateus, na zona leste de São Paulo, sabe-se lá como. Desde que chegou
ao abrigo da Aila (Aliança Internacional do Animal), faz semanalmente
sessões de acupuntura e fisioterapia.
Em breve, deve se submeter a uma cirurgia. Da cintura para baixo, Alê
não se move. Ele faz parte de uma lista de animais que não se enquadram
na categoria "fofinho". São bichos idosos, portadores de alguma doença
crônica ou vítimas de mutilações e preconceito humano.
Como sofrem rejeição na hora da adoção, nem chegam a participar das
feirinhas, para evitar uma "versão moderna dos 'freak shows' [shows de
horrores]", nas palavras de Marta Giraldes, 44, vice-presidente da Aila.
"Essa população pet", continua ela, "é uma espécie de 'excluídos dos
excluídos'". "Quase ninguém quer saber deles. Quiçá ficar com eles."
Essa turma não é pequena. Segundo estimativas de dez ONGs de proteção,
entre 30% e 40% dos bichos que vivem em abrigos na Grande São Paulo se
enquadram nesse perfil, o que representa pelo menos 2.000 animais.
"O que as pessoas veem nas vitrines dos pet shops? Bichinhos bonitinhos,
pequenininhos, branquinhos, peludinhos", conta Luiz Scalea, 44,
gerente-administrativo da Apasfa (Associação de Proteção dos Animais São
Francisco de Assis). "A gente trabalha com os que são descartados pela
população."
Ao todo, a entidade está com cerca de 250 animais espalhados por abrigos, quase 40% deles são "indoáveis", segundo Scalea.
SOBREVIVENTES
Existe outro grupo especial de "indoáveis". E a médica Patrícia de Arruda Cancellara, 41, o conhece bem.
Há 13 anos, ela só trabalha com um perfil delicado de "excluídos": os pit bulls.
A entidade dela, a Pit Cão, abriga hoje cerca de 260 cães entre filas,
rottweilers e "vira-latas pretinhos, velhinhos, ceguinhos, que ninguém
quer", diz Patrícia. E, é claro, pit bulls -a maioria deles.
Ela calcula que 99% desses animais tenham sido vítimas de algum tipo de
crueldade. Um deles é Lanza, mestiço de pit bull com boxer.
Há cerca de um ano e meio, ele foi resgatado por Patrícia das ruas da
periferia de Guarulhos. Quando a médica o encontrou, estava quase morto.
"Ele tinha vários machucados profundos no focinho."
Contaram cerca de
2.000 larvas na face do cão. Ele passou por uma série de cirurgias
complicadíssimas. Permaneceu seis meses internado.
"Existe muito preconceito contra os pit bulls", diz Patrícia. "O homem
os incitou à violência", conta. "Muita gente, quando se depara com um
deles pela rua, quer de qualquer forma maltratá-lo."
NOTA
O Centro de adoção funciona de Terça a Domingo, na Rua General Jardim 234 - Centro, SP. Fone: 11 2131-2536
Vários animais como: gatos, cães, coelhos, galos etc. estão aguardando uma família. Faça-nos uma visita.
Af, o Ser Humano... Estende sua vaidade torpe e seus preconceitos até aos animais...
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